Depois das incríveis férias pela América do Sul, voltei para Manaus. Passei um mês e pouco na floresta, enquanto tentavamos capturar ariranhas (lontras gigantes, foto abaixo) para colocar-mos rádio-transmissores. Mais tarde, comecei o meu projeto com as ariranhas no mesmo local e vejam o que andei a ver...
Mais um pouco de Amazônia
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Igapó: a floresta inundada da Amazônia. |
Parece bonito. No entanto, todo o lago de Balbina era antes floresta amazônica primária. Com o represamento do Rio Uatumã, foi alagada uma área imensa de floresta, formando-se mais de 3 500 ilhas espalhadas por essa área. As ilhas correspondem às zonas mais elevadas da floresta já destruída. A formação deste tipo de lago possibilita o acesso a zonas antes remotas. Assim, dessas ilhas, inúmeras já estão ocupadas por pessoas ou pelas suas plantações. Na foto abaixo, do lado esquerdo, a ilha está coberta por uma plantação de bananeiras, enquanto a ilha vizinha permance com a sua vegetação nativa.
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Para uma ilha ser ocupada por pessoas, é preciso primeiro queimar a floresta que lá está. |
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Depois de terem limpado tudo da ilha, as pessoas constroem as suas casas. |
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E não podiam falta as igrejas! |
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Esta foto foi tirada numa região do lago bastante ocupada por pessoas. Na foto observa-se um cabo de electricidade que está preso às arvores mortas que ainda persistem de pé no lago. |
Vila de Balbina
Esta vila surgiu em função da construção da UHE de Balbina. Na foto abaixo observa-se a represa cuja construção deu origem ao Lago de Balbina. Esta e as restantes fotos foram tiradas do Mirandinha - o boteco que fica no porto onde embarcamos e desembarcamos do lago. Vale a pena dizer que, enquanto estava na Vila de Balbina, este era o lugar mais giro e agradável. Quase todos os dias contavam com um espectacular pôr-do-sol. Bastava ficar dois minutos a olhar para o lago para ver os botos (golfinhos fluviais) a virem à superficie e, ao final do dia, chegavam alguns jacarés. No entanto, nada disso nos impedia de dar um mergulhinho no lago. Principalmente quando estava na época cheia, em que podiamos saltar para a água a partir do Mirandinha. Ainda para complementar, sempre que possível, pedia as deliciosas iscas de tucunaré, acompanhadas de uma cerveja - perfeito!
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UHE de Balbina. |
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Mais uma entrada no campo. |
Onde é que eu dormia?
Enquanto estava na Vila de Balbina, ficava alojada numa "casa de trânsito". Esta casa recebe os investigadores que desenvolvem trabalhos nas proximidades do local. A Vila de Balbina tinha algumas coisas engraçadas e que eu nunca tinha visto antes. Estava dividida em duas partes: o Waimiri e o Atroari. Na primeira, as casas eram de dois ou três tipos. Eu ficava nessa parte no tipo correspondentes às menores casas. No Atroari, as casas eram de madeira e bastante mais humildes. Na Vila, o que mais me surpreendeu nas pessoas foi a sua simpatia e os momentos no escritório da Reserva Biológica Uatumã foram super bem passados.
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Esta casa ficava em frente à casa onde eu estava alojada. Todas as casas na rua eram iguais. |
Durante quase todo o estágio no projeto "Ariranha", o nosso alojamento era a base "Waba". Este lugar era uma espécie de hotel de selva se comparar com os outros locais onde mais tarde pernoitei. Na base waba viviam os fiscais da Reserva Biológica do Uatumã que também eram boas pessoas. Foi ai que aprendi a fazer um belo pão com o Bira (daí eu chamar ao meu pão o "pão do Bira"). Durante o dia, era terrível ficar na base. O calor tornava-se insuportável a partir das 10h e não me deixava fazer muita coisa. No entanto, muitas vezes tudo melhorava com um mergulho no lago.
Quando passei a dedicar-me ao meu projeto, tinha que passar cada dia num lugar diferente do lago. Aí sim dormi em alguns lugares desconfortáveis, mas outros nem por isso. A margem direita é em grande parte ocupada por pessoas. Assim quando tivemos de trabalhar desse lado, ficámos na simpática casa do Seu Zequinha (fotos abaixo).
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Nesta noite estavamos a comer uma grande caldeirada de tucunaré. |
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A cozinha da casa do Seu Zequinha! |
O meu lugar favorito foi a cabana do Loreno (foto abaixo). Tinha um andar em cima onde nós colocavamos as nossas redes. Os mosquitos não me incomodaram muito durante esses dias. O único se não, era que nesse andar de cima não havia paredes nem nada do género. Isto tornava o lugar um pouco mais underground, mas ao mesmo tempo dava-lhe uma certa piada! O pior era quando tinha de ir à "casa de banho" a meio da noite...
Mais um dos lugares onde pernoitavamos. Pode não ter muito bom aspecto mas é incrivelmente confortável quando comparado com as tendas. Lembro-me duma noite em que o barqueiro preparou um tucunaré assado incrível!!
Foi bom ver...
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Anta (br) ou tapir do brasil (pt) (Tapirus terrestris) |
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Eram vários os animais que viamos atravessar o lago, entre uma ilha e outra. |
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Tamanduá-bandeira (br) ou urso formigueiro gigante (pt) (Myrmecophaga tridactyla). |
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Um escorpião que encontramos quase por baixo da nossa tenda, enquanto acampávamos em outra área não habitada. |
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Gavião preto (Buteogallus urubitinga). |
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Grupo de bugios ou guariba (Alouatta macconelli). |
Lontras gigantes ou Ariranhas (Pteronura brasiliensis)
Araras
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Arara vermelha (Ara chloropterus) |
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Arara-canidé (Ara ararauna) |
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Por agora terminei o trabalho de campo com as ariranhas, mas voltarei para este lugar dentro de um ano, altura em que darei incio ao trabalho de campo do meu doutoramento.