domingo, 16 de outubro de 2011

Travessia Belém - Manaus

Cinco dias subindo o rio Amazonas...

Muita gente me recomendou que chegasse bem cedo ao porto, para conseguir um bom lugar para a minha rede, e foi o que fiz. O pior foi que, apesar de ter conseguido um lugar razoável, logo depois haviam outras mil redes em cima da minha! O barco partiu quando estava a cair o pôr-do-sol e ali fiquei na minha rede.

A travessia Belém - Manaus começou por ser tranquila. Os dias eram todos iguais e o tempo ia se passando. Passava a maior parte do tempo a olhar para a margem do rio, de onde se avistava a floresta tropical e várias barracas onde vivem os ribeirinhos. À medida que o barco passava, aproximavam-se crianças com traços indigenas numas canoas. As pessoas do barco lançavam ao rio sacos com roupa que ficavam a boiar e as crianças iam buscá-los. A dormida era sempre um pouco complicada porque o barco estava realmente lotado e as redes onde dormiamos sobrepunham-se. Cada vez que alguém se mexia, a minha rede abanava, mas com o passar do tempo habituei-me a dormir nessas mesmas condições. Ao longo da viagem fui falando com várias pessoas. A grande maioria tratava-se de emigrantes, tanto provenientes do estado do Pará como do Maranhão. Outras pessoas estavam só a viajar, a retornar para casa ou a caminho de um outro lugar. No terceiro dia, o barco parou em Santarém e passei lá uma parte do dia. Lembro-me de comprar o abacaxi mais doce que alguma vez comi por 0,50 centávos. Nessa cidade desceram muitos dos passageiros que me acompanhavam desde Belém e entraram outros. Foi a partir daí que as coisas pioraram no barco e eis que na última noite fiquei sem a minha máquina fotográfica... Eu tinha o cuidado de não a largar por um minuto mas nessa noite estavam umas pessoas estranhas que já deviam estar de olho na máquina. Quando acordei já não havia máquina, não senti tirarem-na dos meus braços enquanto dormia, mas também já não estavam no barco essas pessoas estranhas. Cheguei por fim a Manaus! Despedi-me dos gringos que me acompanhavam, um casal de húngaros, um espanhol e uma canadense, além de um paulista. Liguei para a Márcia, a pessoa que está responsável pelos estagiários do Projecto Ariranha, e passado um tempo ela foi-me buscar ao porto de Manaus. 


Com a chegada a Manaus começa o estágio no Projecto Ariranha (= lontra gigante)!





Belém & Ilha do Marajó


Depois da Chapada dos Veadeiros, retornei a Brasília e segui para Belém. Quando lá cheguei... o calor que estava!!! Mas tinha que me acostumar a isso porque, daí em diante, só iria piorar. Como se isso não fosse suficiente, ainda fiquei engripada, por conta do frio tinha apanhado na Chapada. Ora, e para piorar só mais um bocadinho,  fiquei num hostel péssimo. Apesar da simpatia das pessoas, o dormitório parecia que ia cair a qualquer momento e as baratas já nem se contavam pelos dedos. Deixei logo tudo pronto para embarcar no final da semana para Manaus e no dia seguinte mandei-me para a Ilha do Marajó, mais uma aventura!

Sai do hostel bem cedo mas quando cheguei ao porto o barco já tinha saído. Havia qualquer coisa que não estava bem, logo percebi que não tinha acertado as horas no relógio que entretanto tinham mudado entre as cidades... Então, resolvi deixar as minhas coisas no guarda-malas do porto e fui conhecer Belém! Fui até ao centro histórico e fiz compras no mercado ver-o-peso. Regressei ao porto para apanhar o próximo barco que saia só da parte da tarde e nisto, quando cheguei à ilha, já estava de noite... 


Esta é considerada a maior ilha fluvial do mundo e no Brasil é conhecida por ter a maior produção de búfalos a nível nacional. O barco que sai de Belém chega a terra onde não há nada e daí os principais locais para onde se vai são Salvaterra e Soure. O segundo lugar, considerado como a "capital" de Marajó (estou com muita pena de não ter fotos a mostrar as estradas de terra da capital...), localiza-se um pouco depois de Salvaterra e para lá chegar é preciso voltar a apanhar um ferry. A minha opção foi Soure pelo maior número de praias que poderia visitar a partir daí.


Apanhei então uma van para Soure, que deixava as pessoas, maioritariamente turistas, nos seus respectivos destinos. No entanto, no meu caso não havia nenhum destino pré-definido e aquele era um fim-de-semana prolongado. Na van, disse que queria ficar num camping, mas deixaram-me à porta de uns senhores nada a ver com camping (tinham um jardinzinho à frente de casa). Ainda assim, esses senhores, um casal mais velho muito simpático, receberam-me super-bem e aproveitei para descansar e recuperar da gripe. 


No dia seguinte fui conhecer a vila de Soure. Comi lá em casa o peixe com açaí, o verdadeiro açaí que eles misturam com farinha, e camarões de rio. Logo depois conheci uns espanhóis e com eles segui para a Praia do Pescador, e que lugar lindo! Quando lá cheguei o rio estava bem longe e a praia era imensa. A água era tão quente que não dava para refrescar de maneira nenhuma, além de que na beirinha conseguia mesmo queimar os pés! Aí ficamos a encher o corpo da areia que parecia um exfoliante e quando olhei para as nossas tralhas já estava tudo a boiar. O rio tinha subido a uma velocidade louca. Corremos para ir tirar de lá as coisas mas ainda assim a maioria das coisas molhou. Esquecemos isso e ficamos por lá a ouvir as histórias malucas de um hippie, até ver pôr-do-sol. 

Regressámos e fomos para uma outra praia, a Barra Velha, onde pernoitámos na varanda de um barraca de madeira do filho dos senhores onde eu tinha ficado na noite anterior. A barraca ficava mesmo na praia e foi incrível o nascer do dia. O sol saiu do mar e foi subindo, subindo... e eu nem precisei de me levantar da rede onde dormia para ver isso! Mais tarde saímos para passear pela praia, junto ao mangue, e eu aproveitei para apanhar umas sementes (ao invés de conchas, que apanharia numa praia marinha). 

Ainda nesse dia regressámos a Belém. Lá os espanhóis estavam a participar num encontro de comunicação na Universidade de Belém e segui para lá com eles. Pernoitei essa noite na Universidade que, por essa razão, estava em festa. No dia seguinte, despedi-me dos bacanos dos espanhóis e segui para o porto de onde ia sair o barco para Manaus na parte da tarde.



Brasília & Chapada dos Veadeiros


Depois do Rio de Janeiro...





Brasília foi uma cidade interessante de conhecer. Diferente das cidades brasileiras que conheci até agora, esta cidade chama a atenção pela sua moderna arquitectura e pelo facto de ter sido projectada. O centro da cidade é chamado de plano piloto, onde nada pode ser alterado. Esse plano tem o formato de um avião e nas suas asas, sul e norte, encontram-se as moradias, todas iguais. Já no corpo do avião encontra-se tudo o resto, desde a cidade jurídica até aos museus, biblioteca, etc etc. Tudo está organizado por sectores, de modo que existem sectores de tudo e mais alguma coisa (jurídico, policial, industrial e por ai vai). Existe ainda lago imenso artificial que  ajuda a amenizar a secura do planalto, onde se localiza a cidade. Assim, apesar de ser no meio do nada, interiorzão do Brasil, ali está a capital, limpa e organizada.

Graças à Shi, amiga da Inês (com quem fiquei no Rio), tive a possibilidade de ficar em casa do Jorge, amigo da Shi. Isso tornou a minha estadia muitíssimo mais agradável, um obrigada ao Jorge por tudo :)

Seguiu-se então a Chapada dos Veadeiros, onde estava a decorrer um festival de culturas tradicionais do cerrado. Apanhei um autocarro em Brasília e fui para Alto Paraíso, onde à chegada passou por cima do autocarro um tucano-de-peito-branco. No terminal rodoviário encontrei várias pessoas que iam seguir para São Jorge, a vila que mesmo à entrada do Parque Nacional dos Veadeiros e onde estava realmente a decorrer o tal festival. Então raxei um táxi com mais algum pessoal e fui até São Jorge. Ai acampei durante dois dias e tentei aproveitar como pude as cachoeiras e as actividades do festival. Foi óptimo porque a vilazinha estava numa animação que só e havia sempre um monte de coisas para fazer.  As trilhas para chegar às cachoeiras eram bastante agradáveis e permitiram-me finalmente conhecer o cerrado!


Canion no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros







A "piscina" originada pelo canion da foto anterior
Paisagem do cerrado, bioma da Chapada dos Veadeiros







Uma das várias cacheiras que visitei na Chapada dos Veadeiros.





Novamente, a paisagem do cerrado, na Chapada dos Veadeiros.