Cinco dias subindo o rio Amazonas...
Muita gente me recomendou que chegasse bem cedo ao porto, para conseguir um bom lugar para a minha rede, e foi o que fiz. O pior foi que, apesar de ter conseguido um lugar razoável, logo depois haviam outras mil redes em cima da minha! O barco partiu quando estava a cair o pôr-do-sol e ali fiquei na minha rede.
A travessia Belém - Manaus começou por ser tranquila. Os dias eram todos iguais e o tempo ia se passando. Passava a maior parte do tempo a olhar para a margem do rio, de onde se avistava a floresta tropical e várias barracas onde vivem os ribeirinhos. À medida que o barco passava, aproximavam-se crianças com traços indigenas numas canoas. As pessoas do barco lançavam ao rio sacos com roupa que ficavam a boiar e as crianças iam buscá-los. A dormida era sempre um pouco complicada porque o barco estava realmente lotado e as redes onde dormiamos sobrepunham-se. Cada vez que alguém se mexia, a minha rede abanava, mas com o passar do tempo habituei-me a dormir nessas mesmas condições. Ao longo da viagem fui falando com várias pessoas. A grande maioria tratava-se de emigrantes, tanto provenientes do estado do Pará como do Maranhão. Outras pessoas estavam só a viajar, a retornar para casa ou a caminho de um outro lugar. No terceiro dia, o barco parou em Santarém e passei lá uma parte do dia. Lembro-me de comprar o abacaxi mais doce que alguma vez comi por 0,50 centávos. Nessa cidade desceram muitos dos passageiros que me acompanhavam desde Belém e entraram outros. Foi a partir daí que as coisas pioraram no barco e eis que na última noite fiquei sem a minha máquina fotográfica... Eu tinha o cuidado de não a largar por um minuto mas nessa noite estavam umas pessoas estranhas que já deviam estar de olho na máquina. Quando acordei já não havia máquina, não senti tirarem-na dos meus braços enquanto dormia, mas também já não estavam no barco essas pessoas estranhas. Cheguei por fim a Manaus! Despedi-me dos gringos que me acompanhavam, um casal de húngaros, um espanhol e uma canadense, além de um paulista. Liguei para a Márcia, a pessoa que está responsável pelos estagiários do Projecto Ariranha, e passado um tempo ela foi-me buscar ao porto de Manaus.
Com a chegada a Manaus começa o estágio no Projecto Ariranha (= lontra gigante)!