quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Amazónia - Os primeiros 2 de muitos meses...


Depois do Rio de Janeiro... veio a Amazónia!

No início de Agosto, logo após ter chegado à pacata Vila de Balbina, fui para a minha primeira excursão de campo pelo Projecto Ariranha. Quando dei por mim já estava no lago da hidroeléctrica de Balbina, a caminho da base Waba. Esta base fica numa das mais de 3 300 ilhas formadas devido ao represamento do Rio Uatumã e nada mais é que uma espécie de hotel de selva, como eu lhe gosto de chamar, onde os fiscais da reserva ficam. Isto porque, devido aos danos ambientais causados pela instalação da hidroeléctrica, foi criada uma reserva biológica como uma medida de mitigação. A reserva, chamada Rebio Uatumã, é a maior do Brasil e abrange tanto o lago a hidroeléctrica, onde se encontram as várias ilhas, como também uma parte de "terra firme". 
A fotografia abaixo foi tirada nesse dia, enquanto subia o "rio" Uatumã (transformado em lago devido ao tal represamento). Ao longe dá para ver um cenário similar ao da guerra dos mundos, mas neste caso trata-se do que eles aqui chamam de cacaia. Acho este nome engraçado para designar a floresta morta, que não foi retirada quando o lago se formou. O barqueiro que nos acompanhou já trabalha na área há algum tempo e disse que se lembrava de ver os macacos nas árvores já meias submersas que, isolados, não tinha para onde ir. A segunda fotografia por sua vez, foi igualmente tirada no lago, mas essa, sem cacaia, quase passa despercebida, ainda assim não deixa de se tratar de um ambiente alterado pelo Homem.




Muitas dessas ilhas, as que não estão dentro da reserva, são agora ocupadas por citadinos que resolvem dedicar-se à agricultura no final da vida. Não existe ainda nenhum controlo eficaz sobre essa rápida ocupação das ilhas e essas pessoas, além de desflorestarem não só a sua ilha, como as ilhas em redor, ainda caçam, pescam e matam tudo o que mexe. São bizarras as histórias que alguns dos ribeirinhos contam. Ao mesmo tempo, é curioso ver como as pessoas podem viver isoladas, sem o conforto a que estamos habituados. As fotografias abaixo foram tiradas numa das ilhas do Sr. Edilson, um senhor com mais de 60 anos que, sozinho, já desflorestou completamente três ilhas onde vai agora plantar babaneiras. A sua casa é feita de palha e troncos e possuí uma lona de plástico, que confere uma espécie de isolamento. No dia em que o visitamos o seu almoço foi um tato grelhado com farinha de mandioca, como mostro na fotografia da direita.



O trabalho de campo no lago começa cedo. Acordamos às 4h30 e rapidamente saimos para "rodar" no lago. Normalmente consigo ver tanto o nascer como o pôr-do-sol, sendo ambos incrivelmente bonitos. Assim, apesar da presença da cacaia, as fotografias abaixo reflectem bem esse espectáculo a que tenho a sorte de assistir quase todos os dias durante as excursões de campo.